domingo, 20 de fevereiro de 2011

No escuro da Noite

Sentada no canto do salão olhava a todos com a arrogância da realeza, torcendo o nariz para cada bandeja que passava.
Fazendo pose de femme fatale , jogava os cabelos opacos de um lado para o outro num movimento perturbador, usava um vestido verde comprado numa liquidação e sapatos pretos da coleção passada que tinham suas ranhuras de uso disfarçadas com caneta.
O garçom trouxe uma bebida, finalmente sorria, é verdade que foi um sorriso de canto de boca, desses que a gente dá para não parecer mal educada. Um único gole. A bebida desceu queimando pela garganta, segurou a careta.
Um rapaz sentado do outro lado observava a tudo com estrema curiosidade. De repente, como que possuído por uma força espiritual, levantou-se e atravessou o salão indo até a mulher.
- a senhorita gostaria de dançar
- não obrigada
Continuou olhando para o salão como se o rapaz fosse invisível
-Tem certeza que não quer dançar? – insistiu
-É o que parece, não acha?
O rapaz afastou-se.
Ela continuou ali, olhando o movimento. Ora parecia que esperava alguém, ora que fora esquecida naquele canto.
Tempos depois outra bebida, um gole. Parece ter pressa, impaciência de quem foi esquecida. Ascendeu um cigarro, outro, depois outro. Mais um gole.
Levanta-se paga a conta. Passa pelo rapaz. Aproxima a boca perto de seu ouvido. Ele sente o calor do seu hálito arrepiar o corpo inteiro.
- agora quero dançar, mas não aqui.
Ele olha e não acredita. Segue a mulher misteriosa. Não pensa em mais nada, a não ser encontrar a presa.
Virando a esquina, um beco esquecido. De longe ele vê a fumaça do cigarro. Chega perto. No abraço sente o fio da faca atravessar sua barriga. Cai no chão de dor, se contorce e ela olha.
Ela abaixa, pega a carteira, o que tem dentro. Ele a segura com ânsia, mas já não tem força. Ela sai e ele fica ali, caído no chão, apenas com o cheiro do perfume barato dela. E ainda sorri.

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