Infantilização do Pensamento Adulto: Reflexões sobre Religião, Política e Sociedade
Resumo
Este artigo discute o fenômeno da infantilização do pensamento adulto, entendido como a regressão cognitiva e comportamental em que indivíduos maduros deixam de exercer a reflexão crítica, a autonomia e a responsabilidade próprias da vida adulta. A partir da análise dos contextos religioso, político e social contemporâneos, observa-se que muitos adultos têm adotado posturas de dependência, passividade e pensamento mágico, que fragilizam o debate democrático e a construção coletiva.
Introdução
A fase adulta, tradicionalmente associada à autonomia, ao senso crítico e à responsabilidade social, vem sendo marcada por um movimento paradoxal: a infantilização do pensamento. Esse fenômeno se expressa na adesão acrítica a discursos prontos, na busca por líderes “paternais” que ofereçam respostas simples a problemas complexos e na intolerância ao contraditório.
O contexto atual — marcado por incertezas, crises políticas, insegurança econômica e excesso de informações — cria um terreno fértil para que o adulto, em vez de amadurecer diante das adversidades, adote a postura de quem espera soluções externas, como uma criança diante da autoridade dos pais.
Religião: a terceirização da consciência
Na esfera religiosa, a infantilização se revela na entrega incondicional a líderes espirituais que se apresentam como detentores exclusivos da verdade. O fiel, em vez de desenvolver uma fé crítica e pessoal, assume uma postura de dependência, aguardando ordens e milagres, como uma criança que espera ser guiada em todos os aspectos da vida. O resultado é a perda da autonomia espiritual e o fortalecimento de comunidades marcadas pelo medo, pela obediência cega e pela exclusão dos que ousam pensar diferente.
Política: o culto ao “pai protetor”
Na política, a infantilização do pensamento adulto se manifesta na idolatria a líderes carismáticos que se colocam como salvadores da pátria. O cidadão, em vez de exercer o papel de sujeito político crítico, comporta-se como uma criança que deposita toda a esperança em figuras paternalistas. Essa dinâmica gera polarização, fragiliza instituições democráticas e transforma o debate público em um embate entre “torcidas organizadas”, incapazes de dialogar.
Sociedade: consumo, redes e a eterna adolescência
No campo social, a infantilização se expressa no consumo compulsivo, na busca incessante por gratificação imediata e na dificuldade de lidar com frustrações. As redes digitais potencializam esse processo, oferecendo curtidas e validações instantâneas que alimentam um comportamento emocionalmente imaturo. O adulto, em vez de buscar a construção paciente de projetos de vida, vive refém da dopamina da aprovação social.
Consequências e desafios
A infantilização do pensamento adulto fragiliza a vida em sociedade, pois adultos infantilizados tendem a rejeitar responsabilidades, abraçar soluções simplistas e buscar culpados externos para problemas coletivos. Esse movimento ameaça a democracia, compromete a pluralidade e enfraquece o tecido social.
Superar essa tendência exige resgatar a educação para a autonomia, incentivando pensamento crítico, responsabilidade individual e maturidade emocional. O adulto precisa aprender a conviver com a dúvida, a frustração e a complexidade — características inevitáveis da vida real.
Considerações finais
A infantilização do pensamento adulto não é apenas um desvio individual, mas um fenômeno social que atinge religião, política e relações cotidianas. Se não for enfrentada, comprometerá nossa capacidade de construir sociedades democráticas, plurais e justas. A saída não está em eliminar a leveza e a ludicidade próprias da infância, mas em reconciliá-las com a maturidade e a responsabilidade que o mundo adulto exige.
Nenhum comentário:
Postar um comentário